A partitura é uma ferramenta muito importante para qualquer tipo de músico, desde o iniciante até o avançado. Se você conhece muitas pessoas que tocam um instrumento, você já percebeu que esse assunto ainda é um tabu no Brasil. Muitos músicos profissionais não dominam a partitura, o que dirá os amadores! Isso não impede ninguém de fazer música, porém essas pessoas deixam de ter essa grande ferramenta de comunicação musical ao seu dispor.
Dominar a partitura realmente não é uma tarefa fácil, mas não quer dizer que não seja possível. Devemos traçar um paralelo com uma língua. Ninguém aprende uma nova língua, sua gramática e escrita, de um dia para o outro. É necessário muito treino, persistência e, claro, uma boa metodologia de ensino. A maior parte das pessoas que desenvolveram bloqueio com a partitura foi porque pecaram no último quesito. Há muitos métodos por aí, inclusive consagrados, que passam todo o conteúdo de uma vez e obrigam o aluno a decorar tudo. Imagina se alguém jogasse um dicionário de russo-português na sua mão e mandasse você decorar! Simplesmente não funciona! A boa notícia é que hoje você conta com métodos muito mais legais, como os nossos cursos de teoria da musicDot.
Acho que já deu para você entender que não será apenas lendo esse artigo que você vai aprender como ler uma partitura, mas vou te passar o primeiro passo da leitura, para já sair lendo alguma coisa hoje!
Uma partitura tem, essencialmente, duas grandes informações: a nota que deve ser tocada e a duração dessa nota. Vamos focar hoje em como achar a nota que deve ser tocada, ou seja, o que chamamos de ALTURA.
Vamos voltar no básico. Você conhece as notas musicais? A famosa sequência DO RE MI FA SOL LA SI DO? Se quiser saber mais sobre as notas, temos outro artigo aqui. Se você já está familiarizado com esse sequência, é importante fazer um primeiro exercício. Você consegue falar essa sequência ao contrário? Vamos lá: DO SI LA SOL FA MI RE DO.
E se tentarmos começar a sequência de um lugar diferente, por exemplo da nota SOL? Ficaria SOL LA SI DO RE MI FA SOL, certo? Enfim, é importante você dominar a sequência ascendente e descendente das notas, começando de qualquer lugar. Isso vai ajudar muito na hora de ler uma partitura.
Muito bem, agora o próximo passo é fácil. Uma partitura tradicional possui 5 linhas, mas antes de trabalharmos com elas, vamos pensar em apenas uma linha, pode ser? As notas musicais serão sempre representadas por bolinhas:
Vamos posicionar algumas notas musicais nas 3 posições possíveis em relação a essa linha, conforme o desenho a seguir:
Você consegue perceber que foi formada uma escadinha de notas? Sempre teremos essas 3 possibilidades de notas em relação a uma linha: abaixo, no meio da linha, e acima. Agora, se aplicarmos a sequência ascendente das notas que conversamos em cima dessas notas, teremos esse resultado:
Ou seja, se eu souber que a primeira nota é DO, a próxima nota acima na escada tem que ser RE, e a seguir, MI, correto? Ou seja, a partitura só segue a sequência das notas que já conhecemos.
Para ver se você entendeu a lógica por trás disso tudo, se dissermos que a primeira nota é um SOL, qual serão as próximas notas?
E aí, ficou difícil? Não, né? É uma lógica simples. Para treinarmos ainda mais, agora vou te mostrar uma melodia inteira, com várias notas, e só vou te dizer que a primeira se chama DO. Você consegue descobrir quais são as outras notas da sequência? Tente sozinho, e eu já te dou a resposta logo em seguida.
Bom, vamos lá! Logo no início temos a subida da escada, passando DO RE MI. Depois, há uma descida e daí temos que pensar voltando na sequência: RE DO DO. Sim, temos repetição da nota DO ali no meio, certo? Daí vem o maior desafio, o que chamamos de salto. Fica claro que pulamos da nota mais baixa para a mais alta, e isso também é possível. Ou seja, as duas últimas notas são MI e RE. O exercício inteiro fica: DO RE MI RE DO DO MI RE. E aí, acertou?
A lógica vai ser sempre essa, basta seguir a sequência das notas. Faça o teste com o mesmo desenho de partitura, só que começando na nota LA:
Se você chegou no resultado LA SI DO SI LA LA DO SI, você já sabe ler as notas em uma partitura!
Agora, vamos dar uma olhada em como fica esse sistema de notas da forma mais tradicional, nas 5 linhas, as notas em ordem ascendente e em ordem descendente:
Ainda não sabemos quem é quem porque eu não te falei qual é o nome de nenhuma nota para você ter de referência, mas podemos brincar com uma sequência de notas qualquer e aplicar a lógica que conversamos em um exercício de 5 linhas:
Como foi? Muito difícil? Acredito que pelo caminho que fizemos até agora esteja bem tranquilo de ler. Confira o resultado do exercício e veja se ficou alguma dúvida:
Acho que ficou bem claro que essa leitura que estamos fazendo é uma leitura RELATIVA. A gente parte de um ponto fixo para saber todas as outras notas em referência à esse ponto. Bom, você deve estar pensando que esse formato não é muito prático, porque tenho que ficar dizendo a nota de referência sempre. Alguém também achou isso há muito tempo atrás, e decidiram que facilitaria fixar um ponto de referência para que, além de ler de forma relativa, vendo o caminho da melodia, a gente também pudesse decorar algumas posições de notas. Se fixamos que naquele ponto será sempre uma nota X, passamos a fazer a leitura ABSOLUTA.
Para isso surgiram as CLAVES, sendo que a mais usada para leitura de partitura na maioria dos instrumentos é a CLAVE DE SOL. Você com certeza já viu esse símbolo em algum lugar:
A Clave de Sol justamente fixa para nós a posição da nota SOL. Logo, todas as outras notas também passam a ser sempre no mesmo lugar. A gente coloca sempre a clave no começo de uma linha de partitura, para ficar claro que estamos usando a mesma referência.
Na próxima imagem, você verá a clave de Sol posicionada no pentagrama (nome que damos ao conjunto de 5 linhas) com mais uma informação interessante, a numeração que usamos para identificar as linhas e os espaços entre essas linhas. A contagem é sempre feita de baixo para cima, e a gente vai se acostumar a falar sobre a nota que está na "primeira linha", ou no "terceiro espaço", etc
Para finalizar esse trecho, chegamos ao ponto alto do artigo! A Clave de Sol determina para nós que a nota que está na segunda linha seja sempre um SOL. E claro, se fixarmos que o SOL será sempre na segunda linha do pentagrama, o LA será sempre no segundo espaço, o SI na terceira linha e assim por diante, conforme a figura abaixo:
Como falamos antes, essa leitura absoluta ajuda muito também, porque começamos a decorar onde as notas ficam. Se juntarmos as notas que sabemos de cor com a leitura relativa que vimos no começo do artigo (ou seja, a leitura pelo "movimento da escadinha"), a gente consegue ler muito mais rápido!!! E nessa imagem eu deixo a dica das 4 notas que eu acho legais você já decorar, que seriam as posições das notas SOL e DO em duas oitavas. À partir dessas 4 notas, usando a leitura relativa, você estará lendo qualquer coisa!
Você pode ter estranhado também a posição do último DO da imagem, com um tracinho. Sim, a partitura tem algumas coisas interessantes. Uma delas é que convencionamos o uso de 5 linhas para facilitar a leitura, porém, o pentagrama não dá conta de mostrar todas as notas de um instrumento. Há notas que extrapolam as cinco linhas e precisam ser escritas. Para isso, usamos as linhas suplementares. Pense da seguinte forma: existem linhas infinitas para cima e para baixo do pentagrama, e podemos escrever qualquer nota acima ou abaixo do pentagrama. Mas, ao invés de desenhar a linha toda, a gente faz só um pedacinho da linha para a nota que precisamos destacar, para continuar usando o pentagrama como referência. Veja se fica mais claro na imagem:
Ufa, agora você já sabe ler muito bem uma partitura, pelo menos no que diz respeito às alturas das notas. Tem um último detalhe rápido que eu acho legal você saber. Se você já conhece todas as notas musicais, sabe que existem os acidentes, os famosos sustenidos e bemóis. Como será que eles aparecem na partitura?
Para saber isso, é importante saber que NÃO há espaços ou linhas dedicados somente aos acidentes. Da mesma forma como um DO# compartilha o nome DO com a nota DO natural, na partitura o DO# vai aparecer no mesmo lugar que o DO natural. A gente só vai acrescentar o símbolo do # do lado da nota, só que antes da nota, como se fosse um #DO. O mesmo vale para o bemol. Quando escrevemos um acidente assim, chamamos de acidente ocorrente, aquele que acontece no meio da partitura:
Há ainda uma forma de trabalhar com acidentes fixos. Imagine que durante toda uma música a nota FA seja sustenida, por conta da tonalidade. Melhor do que a gente escrever o símbolo # do lado de todas as notas FA que aparecerem, a gente pode colocar somente um sustenido no início da partitura que indica que todas as notas FA serão sustenidas. É o que chamamos de ARMADURA DE CLAVE. Veja os exemplos a seguir:
Essa questão da armadura de clave é um pouco complexa, mas você vai dominar esse e outros conceitos com facilidade no nosso curso de partitura
Lá também você vai saber sobre como ler os ritmos da partitura, que é um estudo à parte! Espero que você tenha gostado desse artigo, e que através dele você queira conhecer ainda mais desse universo maravilhoso!